A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) promoveu na última quarta-feira (4) o seminário “Conexão: água e cabos submarinos”, com a participação da Cagece e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O evento teve o objetivo de promover um debate sobre a área de implantação da Dessal do Ceará na Praia do Futuro, próxima as estruturas de cabos submarinos e terrestres, além de datacenters na região.
O seminário foi conduzido pelo presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, e contou com a presença de autoridades do Governo do Ceará, sindicatos, acadêmicos e jornalistas. Durante o evento, ficou confirmado pela própria Anatel que não haverá interferências da planta de dessalinização com os cabos submarinos presentes na Praia do Futuro. “Hoje, nós já temos o problema em mar resolvido”, afirmou Wanderson Brito, gerente regional substituto da Anatel Ceará.
Como já havia sido colocado pela Cagece desde o início das alegações das empresas de telecomunicações a respeito da Dessal do Ceará e dos cabos submarinos, o atual projeto concebido pela companhia respeita uma distância de 500 metros recomendada pelo ICPC (International Cable Protection Committee), órgão internacional responsável pela proteção dos cabos. Ainda durante a apresentação, a Anatel apontou uma preocupação com as estruturas da planta em terra, próximas a datacenters, e que poderão cruzar cabos de fibra óptica subterrâneos.
Neuri Freitas, presidente da Cagece, apresentou as justificativas técnicas do projeto da Dessal do Ceará, além de experiências mundo afora que comprovam que é possível as estruturas de uma planta de dessalinização coexistirem numa mesma área com outras estruturas. De acordo com ele, atualmente em Fortaleza há 1.204 pontos em que redes de água e esgoto cruzam com alguma outra estrutura por baixo do solo, seja ela de gás, drenagem e até mesmo de cabos de fibra óptica. “A gente já convive com essas interferências. E a Cagece, em seus 52 anos, não tem nenhum registro de quebra de fibra óptica. Obviamente temos a preocupação de não quebrar nada de ninguém”, declarou.
Dessal e os datacenters
Sobre a preocupação da Anatel com relação a proximidade da planta com datacenters na Praia do Futuro, Neuri Freitas destacou exemplos de outros países para reforçar que não haverá impacto, como riscos de vibrações pela operação da planta, nesses centros de processamento de dados.
“Certamente há locais em que os datacenters estão totalmente isolados. Mas existem locais, como na Bélgica, em que há duas linhas férreas passando ao lado. A Alemanha possui várias faixas de linha férrea próximas a datacenter. Na Carolina do Sul, a Google possui um reservatório de armazenamento de 900 mil litros dentro de um datacenter, com bombas e motores para refrigerar. O mesmo em Singapura, na Ásia. Se essas estruturas vibrassem, certamente não estariam lá. Da mesma forma o nosso projeto também não vai vibrar para prejudicar ninguém”, enfatizou o presidente da Cagece.
Durante o evento, Neuri Freitas também abordou a importância de outras estratégicas de diversificação da matriz hídrica do Ceará, como as iniciativas de reúso, investimentos e planos de combate às perdas, além de contextualizar os últimos anos severos de seca no estado e as medidas que garantiram o abastecimento da população, mesmo com a pouca disponibilidade hídrica nos mananciais.